QUAL O PAPEL DO CRENTE NESTE MUNDO?
Jonas Dias de Souza[1]
Para
começo de conversa, entendemos por CRENTE aquela pessoa que crê no Senhor Jesus
cristo, que o aceitou como legítimo e suficiente salvador. Não interessa em
qual denominação religiosa está congregando. Mas que procura viver uma vida de
santificação.
Como
está o mundo atualmente? Como filósofo, eu vejo o mundo em constante mudança.
Ocorre que as mudanças atuais estão num ritmo vertiginoso. Entendo que os
pontos de reivindicação estão muito mais diversificados e menos aglutinados em
pontos comuns, ou seja, há uma gama maior de interesses defendida por
diferentes pessoas.
Com relação à violência, esta sempre
existiu. O que precisamos entender é a forma diversificada de violência social
denominada corrupção. A corrupção não acontece somente no nível financeiro dos
poderes constituídos, mas ocorre em cada ação cotidiana do membro da sociedade.
Das
ações mais simples como não permitir ao pedestre atravessar a faixa quando
chega a sua vez, até, a tentativa de impor a tolerância irrestrita aos
pseudo-valores que corrompem a sociedade. O simples fato de impor a tolerância
é algo perigoso. Tomemos como exemplo, o fato, da liberdade sexual. Eu devo
respeitar aquele que prefere relacionar-se com o mesmo sexo. Mas não sou obrigado
a concordar com estas atitudes. O que está ocorrendo é que o simples discordar
está sendo visto como forma de violência, quando na verdade é este discordar
que permite ao mecanismo da democracia correr de forma concatenada com suas
engrenagens num perfeito sincronismo. Por vez não podemos permitir e aceitar
qualquer tipo de violência contra pessoas que se relacionam sexualmente com o
mesmo sexo.
Ora,
eu posso não concordar com
o modelo de família que estão tentando impor por
meio político. Mas devo respeitar se porventura este modelo for aprovado por
mecanismos legais. Mas também posso optar por não votar e não apoiar os
políticos que defendam este modelo.
Isto
do ponto de vista político e legal não há muita dificuldade em ser entendido.
Mas e do ponto de vista Bíblico? Quando tomamos a Bíblia (sem fanatismo e
legalismo) por parâmetro não como errarmos enquanto Povo de Deus.
A
questão muda de figura. A Bíblia não admite relativismo ético-moral. Ou ela
permite ou não permite. E ela não permite a questão do ser humano constituir
família partindo da união com o mesmo sexo. Por, outro lado a lei permite que
tenhamos liberdade religiosa para exigirmos respeito durante a realização de
uma cerimônia religiosa. Com outras palavras, devemos admitir a entrada de qualquer
pessoa nos templos religiosos, mas não podemos aceitar que a troca de carinhos
ocorra dentro do templo e durante a cerimônia religiosa. Isto é desrespeitoso.
Em alguns casos pode chegar a ser ilegal. O ato obsceno em público ainda é
punido por nossas leis, assim como a perturbação de culto religioso, seja ele
qual for. Crentes não podem atrapalhar o andamento de outras cerimônias
religiosas a pretexto de evangelizar, isto não é sábio. Assim como, membros de
outras religiões não podem adentrar nossos templos com pretexto de atrapalhar
escudado na democracia.
E
Com relação à política? Não podemos ser alienados a ponto de não acompanharmos
a plataforma eleitoral dos candidatos. Devemos votar de acordo com aquele
candidato que defenda princípios cristãos, e por conseqüência, bíblicos. O princípio democrático permite isto.
É
dever do crente orar pelo mundo, para que este se converta a Cristo. Mas é
dever do crente votar de acordo com a sua consciência. E se um político defende
projetos que desestruturam a família do ponto de vista bíblico, ele não merece
o nosso voto. Seja ele do nosso meio ou não.
E
com relação ás manifestações violentas?
É
dever de todo crente submeter-se à autoridade governamental, isto inclui o
respeito à propriedade privada. Portanto não há que se falar em crente
participando de quebradeira. Mas na manifestação pacífica, ele tem o
poder-dever de participar.
Ser
crente não significa alienar-se dos problemas sociais que rodeiam a rua, o
bairro, a cidade e o país em que residimos. O papel do crente é duplo. Enquanto
ele ora e batalha no mundo espiritual. Luta também no mundo físico.
Poucas,
mas poucas pessoas sabem que estamos numa guerra espiritual. Esta guerra está
se intensificando a cada dia. Uma das estratégias do Príncipe deste mundo é
influenciar as pessoas para que desacreditem dos princípios bíblicos e em
especial da pessoa de Jesus Cristo. Vários discursos são direcionados neste
sentido. Projetos de lei são apresentados. Princípios salutares são mudados. O
fato de determinadas ações não serem ilegais, não significam que não sejam
pecaminosas. A bem da verdade não existe a figura do pecado menor ou do pecado
maior.
A
tolerância pretendida ao uso de determinadas drogas, por exemplo, é um caminho
perigoso e não vejo debates ocorrendo de forma desapaixonada. Não vi até agora
alguém ouvindo os pais de alguém que seja viciado em maconha sendo ouvido pela
mídia, para falar das agruras que sofre vendo o filho desfazer do patrimônio
familiar para manter. Por outro lado, não vislumbro a possibilidade de um
diálogo na entrevista de emprego que ocorra assim.
__O
Senhor tem experiência como motorista?
__
Sim Senhor, já trabalho há algum tempo.
__
Usa alguma substância que o tira da realidade?
__
Sim faço uso de maconha.
__
Perfeito. Não há nada nas normas da Empresa que proíba colocarmos o nosso
patrimônio nas mãos de um maconheiro. O senhor está contratado.
Crentes
conservadores ao extremo podem achar que este assunto é delicado. Mas o
legalismo é tão prejudicial quanto o fanatismo ou liberalismo. O “ismo” é particularmente perigoso, pois
particulariza muitas situações, impedindo um debate. O “ismo” coloca os
movimentos em um nicho. Com certeza, há também o “crentismo”, formado por
pessoas que pensam que o fato de professarem uma religião denominada
“evangélica” as faz melhores que o resto da comunidade. Já se torna soberba
esta atitude, e é condenada pelos princípios cristãos.
Então
qual o verdadeiro papel do crente?
Ser
sal da terra e luz do mundo. Como posso ser sal da terra?
Não
permitindo que a Igreja se torne um centro político. Isto não contradiz o que
afirmamos acima. O crente em Cristo deve ser político em sua vida particular e
secular. Mas não deve permitir que a igreja se torne palco para políticos
profissionais. Subir ao púlpito e falar ao Povo de deus sobre qualquer coisa
que não seja o Evangelho da Cruz de Cristo é terminantemente proibido de acordo
com as escrituras. Maior exemplo deu Jesus, ao expulsar os vendilhões do
templo. Que diferença há entre mercadejar animais para o sacrifício e
mercadejar os votos dos fiéis.
No
entanto, o que vemos é descaradamente a propaganda eleitoral nos púlpitos. O
lugar que deveria ser somente, e somente só, para pregar a palavra de Deus,
está sendo transformado num palanque eleitoreiro. Reafirmamos o nosso
pensamento de que o crente não deve alienar-se da política. Mas tem o
dever/poder de respeitar a casa de Deus e seu povo. É neste sentido que
precisamos refletir sobre qual o papel do crente em Cristo na sociedade atual.
Não
se admite mais, aqueles crentes fanáticos dos tempos de antanho, que se
isolavam de tudo e de todos. Lembremos que a cultura de algumas igrejas proibia
até bem pouco tempo um estudo teológico. Hoje há incentivo para estes estudos.
O grande paradoxo disto tudo é que temos crentes que querem estudar teologia,
mas não querem freqüentar a Escola Bíblica dominical. Desejam ser bacharéis em
teologia, mas não desejam freqüentar os bancos nos dias de Culto de Doutrina.
Desejam
ardentemente e aspiram ao Presbitério (Diaconato, Pastorado, e outros), mas não
querem assumir uma função humilde na igreja. E nem esperar o seu devido tempo.
Dar tempo ao tempo é uma expressão que ilustra bem isto. Em razão disto temos
ministérios que se desmoronam na primeira brisa de dificuldade, não é bom nem
falar em tempestade, pois esta mata estes ministérios sem raízes. Por causa
disto vemos nomes esdrúxulos de igreja, tais como “xixi de anjo”. Isto é
demonstração de que a doutrina não está sendo ensinada adequadamente. Existe
uma fórmula simples para resolver este problema. Se o Espírito Santo não está
na direção dos trabalhos espirituais não podemos esperar frutos. A sugestão que
fica é a de que devemos ser os crentes de Beréia. Paulo ensinava e os Bereanos
consultavam as Sagradas Escrituras para ver se eles estavam falando a verdade.
Se não está na Bíblia não é objeto de doutrina. Tradição não pode ser
equivalente à Palavra de Deus. Hoje por exemplo, uma mulher não pode se dar ao
luxo de recusar um emprego porque este exige como uniforme o uso de calça
comprida, ou “calça Sport” como diziam no meu tempo de criança.
Por
outro lado encontramos pastores preguiçosos que não se preocupam em fornecer um
alimento rico em gordura, mas. Continuam servindo o mesmo leite fraco, para os
crentes de seu rebanho. A conseqüência disto é a migração para igrejas, numa
procura constante de alimento espiritual.
Crentes
que não se alimentam espiritualmente, não conseguem evangelizar, e jamais serão
aptos a praticar a verdadeira Defesa da Fé (Apologética). Eis ai a grande
multidão que tomba sob a mais leve brisa de doutrina. Temos até hoje a imposição de doutrinas que
visam somente prender a consciência do povo aos seus pastores, criando uma
dependência psicológica entre ovelhas e líderes.
Qual
o papel do crente neste mundo?
Já
não é mais isolar-se socialmente, numa guerra de “nós contra eles”. Mas, ter a
consciência de que estamos de fato numa guerra espiritual. Ainda hoje temos o
sacrifício de crianças com vistas à manutenção de pactos diabólicos. O sacrifício
de animais, algo já superado pela questão da cruz, ainda hoje é visto como algo
revestido de espiritualidade. Nós sabemos que a Cruz acabou com isto.
Mas
temos coragem de dizê-lo?
Refletir
na vizinhança, a nossa condição de crente em Cristo Jesus.
Existe
uma ilustração de uma crente que ficava sempre convidando o pastor para ir à
sua casa. E indicava que na casa havia uma placa que dizia “Aqui mora um
servo de Deus”. Certo o dia o pastor foi até a casa e ao chegar à porta não
entrou, pois havia o maior quebra pau naquela casa. Passado um tempo a irmã
cobrou a visita e perguntou se ele não havia achado a casa, e lembrou-se da
placa. O pastor respondeu que havia ido lá, mas a casa estava alugada para o
diabo. Isto não pode acontecer com o Povo de Deus. O papel do crente é andar
pelo bairro e por causa de seu comportamento ser tido como crente. Aquela
pessoa que inspira confiança pela ética que professa. Não precisa ser
catedrático para saber o imperativo categórico Kantiano de agir como se a nossa
ação se torne máxima de conduta. Mas saber que o amor de Cristo que nos inunda,
não permite que demos um cheque sem fundo na praça e continuemos a assumir
compromissos que não cumpriremos.
Obviamente
estamos descartando aqui, aquela eventual dificuldade por causa de um
desemprego repentino, ou uma doença. Falamos daqueles casos premeditados, em
que de espontânea vontade defraudamos o nosso próximo. Ser sal da terra e luz
do mundo é emprestar sabor e luminosidade. Dizemos emprestar porque só Cristo
pode dar a sua luz. O máximo que podemos fazer com nossa humanidade é emprestar
a nossa candeia. Não devemos acender a lâmpada e colocá-la debaixo da cama,
amas, como ensinou Cristo colocar a luz no lugar mais alto da casa e de nossa
comunidade.
[1] Servo de
Deus. Congrega na Assembleia de Deus Missões. Graduado em Filosofia pela UFSJ.
Estudante de Teologia da EETAD.
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