“...Vinde após mim, e
eu farei que sejais pescadores de homens. E, deixando logo as suas redes, o
seguiram. E, passando dali um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu,
e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes, E logo os chamou...” (Mc .1.16-20)
Desde
a cena à margem do mar da Galiléia até à cena da chamada e envio dos
discípulos, os Evangelhos não escondem que entre a multidão de seguidores havia
os comprometidos com um compromisso radical. Um texto que ilustra isso é o do
jovem rico. Afinal ninguém pode servir a dois senhores (Lc 18.18-23; Mt 6.24).
Jesus
não fundou comunidades locais, mas deu origem a um movimento de carismáticos
itinerantes. O movimento de Jesus é, antes de tudo, uma desestabilização da
religião institucionalizada na sinagoga e no templo. Os discípulos primitivos
tornaram-se apóstolos que, itinerantes, andavam de lugar em lugar, sempre em
busca de simpatizantes ou prosélitos à sua pregação. Num primeiro momento,
dentro do Judaísmo; depois, fora dele.
É
curioso notar que, no relato introdutório de Atos, a igreja primitiva de
Jerusalém foi dirigida por doze apóstolos (At 1.12ss). Lucas projeta no passado
seu ideal presente de uma igreja dirigida por um colegiado. Fato que é visto
contrariamente nas alusões de Paulo à igreja de Jerusalém, pois, em sua visita,
três anos depois, ele não encontrou senão a Pedro (Gl 1.18). Onde estavam os
demais? A resposta é que estavam pregando e curando, à luz do que Jesus havia
feito e recomendado que eles fizessem (Mc 3.13ss ou Lc 10.1-11).
Numa
segunda viagem, Paulo encontra as três colunas (Gl 2.9). O grupo dos doze ou
dos 120 dispersou-se logo no início do Cristianismo, tornando-se uma comunidade
de itinerantes. O próprio ministério de Paulo revestiu-se dessa característica.
Essa característica de Jesus e de seus discípulos tem um contorno
sociológico.
Os
discípulos, com nítidas características carismáticas, são os moldadores das
tradições mais antigas, e constituem o pano de fundo social de uma parte
significativa da tradição sinótica. Seus esforços pela recuperação das palavras
(logias) de Jesus, através de citações em suas pregações missionárias,
representam a melhor fonte do que hoje se convencionou chamar de Evangelho
anterior aos evangelhos.
Podemos
dizer que certas ordens de Jesus como Rabi, a esses discípulos, são por eles
perpetuadas em seus comportamentos e formas de convívio social, pois foram eles
que praticaram e transmitiram tais palavras. Foram eles que deram as bases
missionárias e que fundaram igrejas como Samaria, Cesaréia, Antioquia e
Damasco.
O
mais interessante nesse movimento missionário dos discípulos são as normas
éticas, porque fazem referências diretas ao comportamento dos seguidores de
Jesus, mesmo em estilo missionário. Nesta ética, encontra-se o fundamento
sociológico, com sérias implicações político-econômicas, pois envolvem renúncia
a lugar estável (Mt 8.20), à família (Mt 10.37-39), à prosperidade (Mt 4.22;
19.37), e ao sustento (Mt 6.25-33; 10.8-10).
Paulo
Lockmann
Por
Litrazini
Graça
e Paz
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