domingo, 5 de julho de 2020

AS DIGRESSÕES EXISTENTES NA CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR NAS IGREJAS NA ATUALIDADE.



AS DIGRESSÕES EXISTENTES NA CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR NAS IGREJAS NA ATUALIDADE.
Jonas Dias de Souza[1]
Comecemos por falar da difícil escolha do título deste breve estudo. Se falarmos em análise terá que ser um estudo aprofundado do tema. Contudo, quando falamos em “digressões existentes”, permite-nos falarmos das formas equivocadas que estão transformando este memorial instituído por Cristo para que a sua igreja rememorasse a morte dele na cruz.
O que é afinal a “Ceia do Senhor”?
A Ceia é uma refeição, sendo a segunda do dia, geralmente tomada no fim da tarde ou no início da noite. Isto analisado sob a ótica dos tempos bíblicos e ainda vigente em algumas culturas do oriente. Para nós ocidentais, e mais ainda nesta vida de modernidade e extrema correria, esta refeição, está aos poucos
perdendo seu lugar.
A ceia como refeição é descrita pelo apóstolo Paulo em sua primeira carta aos Coríntios, onde ele fala das dissensões existentes na celebração da Santa Ceia do Senhor. O que nos ensina que desde os tempos imemoriais, a celebração apresentava desvios ou digressões na sua forma de celebrar.
Tais desvios na atualidade são tanto em matérias de doutrinas quanto em matérias de comportamento a exemplo dos Coríntios.
A Ceia do Senhor foi instituída por Cristo na noite de sua traição, tendo ocorrido logo depois da refeição da Páscoa, e seu objetivo, conforme dito,  é servir de lembrança da sua morte.
O relato pode ser lido em 1 Coríntios 11.23-34. O apóstolo Paulo recebeu este ensinamento diretamente do SENHOR.

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor.Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice;pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros.Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo. Quanto às demais coisas, eu as ordenarei quando for ter convosco.”[2] (ARA)
Vemos que o Pão e o Vinho são elementos simbólicos e singulares em seu significado. A função do símbolo é apontar para uma direção e neste caso apontam para os fundamentos de nossa fé Cristã. O Pão é “o corpo”, e o vinho, “o sangue”.
A Ceia do Senhor é uma festa de: Memorial, Unidade, Esperança, Obediência e amor.
A ceia também é: Uma ordem de Cristo; Um laço de comunhão entre a cabeça da igreja (Cristo) e seus membros (os crentes); Um testemunho de usa morte e de seu sofrimento e não por fim, é uma confissão de nossa esperança em sua volta Gloriosa para arrebatar a sua noiva que é a igreja.
Em forma de rito exterior, a igreja local aqui na terra se reúne, para comer o pão e beber o vinho, num sinal de dependência daquele que foi crucificado e ressuscitou, dando a sua vida por esta igreja. Esta dependência espiritual constante é uma continuação da vida regenerada daquele que aceitou a Cristo e está aperfeiçoando a sua vida.
Esta ordenança de Cristo pode ser encontrada no Livro do Evangelista Lucas 22.19-20.
“E, tomando o pão e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós.” (ARC)
As igrejas Cristãs praticam este memorial aguardando a volta do Senhor Jesus. Esta prática  das igrejas do Novo Testamento é vista no livro de Atos dos Apóstolos, também denominado por alguns estudiosos de Atos do Espírito Santo no capítulo 2.
“E perseveraram na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” (Atos 2.42)
Os elementos da ceia são o pão e o vinho, sendo que se utiliza o suco de uva não alcoólico nas igrejas cristãs.  A exigência diz respeito ao “fruto da vide” e não exige que seja fermentado. Inúmeras discussões houve a este respeito, sendo na atualidade um consenso e não mais um assunto, digamos, de natureza teológica. Não confundir consenso com tradição. Enquanto no primeiro há uma participação das partes, na segunda há uma imposição unilateral. O consenso pode ser  mudado, ao passo que a tradição exige quebra de paradigmas para mudá-la, e é quase sempre de cima para baixo.
Em sendo dois os elementos da ceia. Concordamos que a participação dos crentes deve ser nos dois elementos (pão e vinho). Diferente do que pratica a igreja romana, que permite somente ao oficiante a participação no vinho. Os comungantes devem sim participar dos dois elementos da Ceia do Senhor.
Por ser de natureza festiva, a participação na ceia deve ser alegre. As lágrimas são em sua maioria de gratidão a Deus, pelo livramento do caminho da perdição que nos levava para a perdição eterna. É possível chorar de alegria. Mas, jamais, devemos participar da Ceia do Senhor com um espírito abatido e triste. Abatimento e tristeza são contrários à participação na Ceia do Senhor.
O vinho lembra a morte que nos deu a vida. Isto não se constitui num paradoxo, mas numa questão central da fé cristã. Cristo sorveu o cálice do sofrimento, para permitir que nós sorvêssemos o cálice do regozijo.
A grande e difícil questão está na interpretação do que vem a ser “comer e beber indignamente” quando participamos da Ceia do Senhor.  Esta indignidade (para alguns) está ligada na forma de participação e na indignidade da pessoa que participa. Neste sentido, é participar sem reconhecer o sentido de importância que possui a cerimônia. A indignidade pessoal não deve ser um empecilho ou impedimento para a participação na ceia, posto que Cristo que aquele que sente necessidade dele. Mas existem algumas prerrogativas que devem ser observadas e que segundo informações de púlpito vem ocorrendo e que conspurcam o memorial. Digo informações de púlpito, porque já ouvi em várias pregações, mas nunca presenciei tal fato. Diz respeito ao fato da comunhão no pão e vinho ser permitida a membros que não estão de fato no corpo da igreja, como exemplo, a não batizados.
Por ser uma festa que deve ser celebrada na reunião da igreja, não pode ser admitida a observância solitária, como ouço dizer, por parte de alguns indivíduos. Neste contexto, concordamos que a responsabilidade para a verificação do bom cumprimento desta ordenança cabe à igreja, seja através de seu pastor ou de seu representante próprio (presbítero ou evangelista), instruindo, além dos cultos de ensino, na exortação ininterrupta nos momentos da comunhão. Graças a Deus, a Igreja que freqüento tem primado por estas exortações de forma incansável.
Há que se tomar cuidado com a rotina nas celebrações da Ceia do Senhor, pois isto pode vulgarizar o fato.  A dificuldade reside no fato de que a Bíblia não traz a frequência com que deve ser realizada, mas somos por concordar que não deve ser diuturna. Mas com uma frequência que permita haver cultos de ensino, de oração e de louvor a Deus. Em nossa igreja celebra-se uma vez por mês, sendo atualmente, nos primeiros sábados à noite. Embora isto fique a cargo do que seja melhor para a membresia local. Mas somos em concordar que não deve ser “a torto e a direito”.
O simbolismo contido na Ceia do Senhor deve ser objeto de ensino nos cultos de doutrina e nas Escolas Bíblicas Dominicais por tratar de ordenança. Ordem não é algo que escolhe se devemos ou não cumprir. Portanto a igreja que não realiza o memorial da Ceia do Senhor está longe de ser chamada Cristã. Se sua igreja não dá o valor necessário a este memorial da ressurreição de Cristo, está na hora de procurar um concerto com Deus e através  da oração pedir um avivamento genuíno.
A Ceia do Senhor é um símbolo que representa a morte de Cristo pelos nossos pecados e ao mesmo tempo a nossa apropriação pessoal dos benefícios advindos com esta expiação. Este  apropriar-se ocorre através de uma união com o Cristo vivo. Nós crentes em Cristo dependemos continuamente daquele Salvador que foi crucificado e no qual estamos unidos, agora em vida. Outro símbolo da Ceia do Senhor é a santificação do crente através da reprodução desta morte expiatória e de sua ressurreição. Enquanto Cristãos esperamos a vindoura e alegre volta do reino de Cristo e sua perfeição.
Lembramos uma vez mais a freqüência desta reprodução, que não deve ser ordinária a ponto de tornar-se vulgar e nem tampouco ficar longe das vistas dos crentes. Para Strong, “a excessiva repetição pode induzir à confiança supersticiosa no valor da comunhão como simples forma exterior.” (Strong, 2003)
A comunhão é realizada com Cristo em primeiro lugar e não com seus irmãos. A comunhão entre os crentes ocorre na participação assídua dos ofícios de adoração, oração, consagração e outras atividades da igreja local. A ceia em si é um rito exterior. Mas a participação na cerimônia da Ceia (cumprindo a ordenança de Cristo) reforça a comunhão ordinária entre os irmãos da mesma fé. Para a filosofia, a comunhão assume o sentido de semelhança de sentimentos, semelhança das ideias ou das crenças de um grupo, pode ser duas ou mais pessoas, que têm a consciência dessa semelhança. É por isto que é fundamental estarmos reunidos sempre no nome de Jesus Cristo.
Em seu ensinamento ele disse: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mateus 18.20)
Considerando o que ouvimos a respeito das idiossincrasias na celebração da Ceia do Senhor, cumpre agora, falar dos pré-requisitos para a participação neste evento.
Esta ordenança foi dada aos discípulos e não para todo mundo. Portando somos em concordar que somente crentes batizados e em reconhecida comunhão com a igreja pode participar, extensivo aos crentes conhecidos de outras denominações e que professem a Sã doutrina do Evangelho de Cristo. Muito embora, o ideal é cada crente participar na sua igreja. 
A igreja é um “poder executivo”, e como tal deve executar a ordenança como foi dada nas Sagradas Escrituras, portanto, está impedida de criar regras (legislar) sobre esta ordenança.
Ainda no rastro de Strong: “ Nem uma (sic) igreja tem o direito de estabelecer quaisquer termos da comunhão; ela só é responsável por tornar conhecidos os termos que Cristo e seus apóstolos estabeleceram.” (Strong, 2003)
O Novo Testamento lista 4 pré-requisitos para a participação na Ceia do Senhor:
1      1) Regeneração
        2)Batismo
        3)Membresia da Igreja
    4) Andar ordenadamente
Há denominações que mantém a guisa de batistério uma piscina plástica na entrada da igreja. Nada contra isto. Mas a ordem de Cristo é clara: “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém! (Mateus 28.19-20)
O simbolismo das ordenanças exige por inferência que o batismo preceda a Ceia.
“Como é necessário “nascer do Espírito” antes de experimentar a força sustentadora de Cristo, é também necessário “nascer da água” antes que se possa apropriadamente ser nutrido pela Ceia do Senhor. Nem aquele que nasceu e nem o morto podem comer o pão ou beber o vinho. Só depois que Cristo havia ressuscitado a filha de Jairo, é que ele “mandou que lhe dessem de comer”. A ordenança que simboliza a regeneração, ou a transmissão de uma nova vida, deve preceder a ordenança que simboliza o fortalecimento e aperfeiçoamento da vida que já começou. O Ensino dos Doze Apóstolos (Didachê), escrito antes da segunda metade do segundo século, declara (9.5,10) _ “Que ninguém coma ou beba a vossa Eucaristia senão aqueles que foram batizados no nome do Senhor; porque, quanto a isto, também o Senhor disse: “Não deis as coisas santas aos cães’... Só se dará a Eucaristia aos batizados.” (Strong, 2003) p.755
Somos por concordar que caso existam de fato estas digressões nas celebrações da Ceia do Senhor, elas estão tendo lugar pela falta de um estudo bíblico sério e comprometido. Pelo aproveitamos para fazer a nossa defesa da Teologia Cristã, enquanto instrumento para suprir a igreja dos conhecimentos necessários para realizar as ordenanças de acordo com a Bíblia. Levantamos a voz em defesa da Escola Bíblica Dominical e dos Cultos de ensino como forma de aprofundar os conhecimentos Bíblicos.
BIBLIOGRAFIA
Bíblia Obreiro Aprovado: Sínteses, artigos, liturgia, concordância,dicionário, Harpa Cristã. (2010). Rio de Janeiro: CPAD.
Cleave, G. P. (2000). Fundamentos da Teologia Pentecostal (2ª ed., Vol. I). (N. Siqueira, Trad.) São Paulo/SP: Quadrangular.
Concordância Bíblica Abreviada. (2006). São Paulo, SP: Vida.
Lallande, A. (1999). Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes.
Sociedade Bíblica do Brasil. A Bíblia Sagrada- Harpa Cristã. Barueri, SP: Casa Publicadora das Assembléias de Deus.
Strong, A. H. (2003). Teologia Sistemática Vol II. São Paulo/SP: Hagnos.
Zimmer, W. K. Dicionário da Bíblia de Almeida.


[1] Servo de Deus. Congrega na Assembleia de Deus Missões na cidade de São João Del-Rei/MG. Licenciado em Filosofia pela UFSJ. Estudante do 1 ciclo da Graduação em Teologia pela EETAD.
[2] Disponível em http://www.sbb.org.br/ acesso em 16/12/2013

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