AS DIGRESSÕES EXISTENTES NA CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR NAS IGREJAS NA
ATUALIDADE.
Jonas Dias de Souza[1]
Comecemos por falar da difícil
escolha do título deste breve estudo. Se falarmos em análise terá que ser um
estudo aprofundado do tema. Contudo, quando falamos em “digressões existentes”,
permite-nos falarmos das formas equivocadas que estão transformando este
memorial instituído por Cristo para que a sua igreja rememorasse a morte dele
na cruz.
O que é afinal a “Ceia do Senhor”?
A Ceia é uma refeição, sendo a
segunda do dia, geralmente tomada no fim da tarde ou no início da noite. Isto
analisado sob a ótica dos tempos bíblicos e ainda vigente em algumas culturas
do oriente. Para nós ocidentais, e mais ainda nesta vida de modernidade e
extrema correria, esta refeição, está aos poucos
perdendo seu lugar.
A ceia como refeição é descrita
pelo apóstolo Paulo em sua primeira carta aos Coríntios, onde ele fala das
dissensões existentes na celebração da Santa Ceia do Senhor. O que nos ensina
que desde os tempos imemoriais, a celebração apresentava desvios ou digressões
na sua forma de celebrar.
Tais desvios na atualidade são
tanto em matérias de doutrinas quanto em matérias de comportamento a exemplo
dos Coríntios.
A Ceia do Senhor foi instituída
por Cristo na noite de sua traição, tendo ocorrido logo depois da refeição da
Páscoa, e seu objetivo, conforme dito, é
servir de lembrança da sua morte.
O relato pode ser lido em 1
Coríntios 11.23-34. O apóstolo Paulo recebeu este ensinamento diretamente do
SENHOR.
“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor.Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice;pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros.Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo. Quanto às demais coisas, eu as ordenarei quando for ter convosco.”[2] (ARA)
Vemos que o Pão e o Vinho são elementos
simbólicos e singulares em seu significado. A função do símbolo é apontar para
uma direção e neste caso apontam para os fundamentos de nossa fé Cristã. O Pão
é “o corpo”, e o vinho, “o sangue”.
A Ceia do Senhor é uma festa de:
Memorial, Unidade, Esperança, Obediência e amor.
A ceia também é: Uma ordem de
Cristo; Um laço de comunhão entre a cabeça da igreja (Cristo) e seus membros
(os crentes); Um testemunho de usa morte e de seu sofrimento e não por fim, é
uma confissão de nossa esperança em sua volta Gloriosa para arrebatar a sua
noiva que é a igreja.
Em forma de rito exterior, a
igreja local aqui na terra se reúne, para comer o pão e beber o vinho, num
sinal de dependência daquele que foi crucificado e ressuscitou, dando a sua
vida por esta igreja. Esta dependência espiritual constante é uma continuação
da vida regenerada daquele que aceitou a Cristo e está aperfeiçoando a sua
vida.
Esta ordenança de Cristo pode ser
encontrada no Livro do Evangelista Lucas 22.19-20.
“E, tomando o pão e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo:
Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim.
Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o Novo
Testamento no meu sangue, que é derramado por vós.” (ARC)
As igrejas Cristãs praticam este
memorial aguardando a volta do Senhor Jesus. Esta prática das igrejas do Novo Testamento é vista no
livro de Atos dos Apóstolos, também denominado por alguns estudiosos de Atos do
Espírito Santo no capítulo 2.
“E perseveraram na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir
do pão, e nas orações.” (Atos 2.42)
Os elementos da ceia são o pão e
o vinho, sendo que se utiliza o suco de uva não alcoólico nas igrejas
cristãs. A exigência diz respeito ao
“fruto da vide” e não exige que seja fermentado. Inúmeras discussões houve a
este respeito, sendo na atualidade um consenso e não mais um assunto, digamos,
de natureza teológica. Não confundir consenso com tradição. Enquanto no
primeiro há uma participação das partes, na segunda há uma imposição
unilateral. O consenso pode ser mudado,
ao passo que a tradição exige quebra de paradigmas para mudá-la, e é quase
sempre de cima para baixo.
Em sendo dois os elementos da
ceia. Concordamos que a participação dos crentes deve ser nos dois elementos
(pão e vinho). Diferente do que pratica a igreja romana, que permite somente ao
oficiante a participação no vinho. Os comungantes devem sim participar dos dois
elementos da Ceia do Senhor.
Por ser de natureza festiva, a
participação na ceia deve ser alegre. As lágrimas são em sua maioria de
gratidão a Deus, pelo livramento do caminho da perdição que nos levava para a
perdição eterna. É possível chorar de alegria. Mas, jamais, devemos participar
da Ceia do Senhor com um espírito abatido e triste. Abatimento e tristeza são
contrários à participação na Ceia do Senhor.
O vinho lembra a morte que nos
deu a vida. Isto não se constitui num paradoxo, mas numa questão central da fé
cristã. Cristo sorveu o cálice do sofrimento, para permitir que nós sorvêssemos
o cálice do regozijo.
A grande e difícil questão está
na interpretação do que vem a ser “comer e beber indignamente” quando
participamos da Ceia do Senhor. Esta
indignidade (para alguns) está ligada na forma de participação e na indignidade
da pessoa que participa. Neste sentido, é participar sem reconhecer o sentido
de importância que possui a cerimônia. A indignidade pessoal não deve ser um
empecilho ou impedimento para a participação na ceia, posto que Cristo que
aquele que sente necessidade dele. Mas existem algumas prerrogativas que devem
ser observadas e que segundo informações de púlpito vem ocorrendo e que
conspurcam o memorial. Digo informações de púlpito, porque já ouvi em várias
pregações, mas nunca presenciei tal fato. Diz respeito ao fato da comunhão no
pão e vinho ser permitida a membros que não estão de fato no corpo da igreja,
como exemplo, a não batizados.
Por ser uma festa que deve ser
celebrada na reunião da igreja, não pode ser admitida a observância solitária,
como ouço dizer, por parte de alguns indivíduos. Neste contexto, concordamos
que a responsabilidade para a verificação do bom cumprimento desta ordenança
cabe à igreja, seja através de seu pastor ou de seu representante próprio
(presbítero ou evangelista), instruindo, além dos cultos de ensino, na
exortação ininterrupta nos momentos da comunhão. Graças a Deus, a Igreja que
freqüento tem primado por estas exortações de forma incansável.
Há que se tomar cuidado com a
rotina nas celebrações da Ceia do Senhor, pois isto pode vulgarizar o fato. A dificuldade reside no fato de que a Bíblia
não traz a frequência com que deve ser realizada, mas somos por concordar que
não deve ser diuturna. Mas com uma frequência que permita haver cultos de
ensino, de oração e de louvor a Deus. Em nossa igreja celebra-se uma vez por
mês, sendo atualmente, nos primeiros sábados à noite. Embora isto fique a cargo
do que seja melhor para a membresia local. Mas somos em concordar que não deve
ser “a torto e a direito”.
O simbolismo contido na Ceia do
Senhor deve ser objeto de ensino nos cultos de doutrina e nas Escolas Bíblicas
Dominicais por tratar de ordenança. Ordem não é algo que escolhe se devemos ou
não cumprir. Portanto a igreja que não realiza o memorial da Ceia do Senhor
está longe de ser chamada Cristã. Se sua igreja não dá o valor necessário a
este memorial da ressurreição de Cristo, está na hora de procurar um concerto
com Deus e através da oração pedir um
avivamento genuíno.
A Ceia do Senhor é um símbolo que
representa a morte de Cristo pelos nossos pecados e ao mesmo tempo a nossa
apropriação pessoal dos benefícios advindos com esta expiação. Este apropriar-se ocorre através de uma união com o
Cristo vivo. Nós crentes em Cristo dependemos continuamente daquele Salvador
que foi crucificado e no qual estamos unidos, agora em vida. Outro símbolo da
Ceia do Senhor é a santificação do crente através da reprodução desta morte
expiatória e de sua ressurreição. Enquanto Cristãos esperamos a vindoura e
alegre volta do reino de Cristo e sua perfeição.
Lembramos uma vez mais a
freqüência desta reprodução, que não deve ser ordinária a ponto de tornar-se
vulgar e nem tampouco ficar longe das vistas dos crentes. Para Strong, “a excessiva repetição pode induzir à
confiança supersticiosa no valor da comunhão como simples forma exterior.” (Strong,
2003)
A comunhão é realizada com Cristo
em primeiro lugar e não com seus irmãos. A comunhão entre os crentes ocorre na
participação assídua dos ofícios de adoração, oração, consagração e outras
atividades da igreja local. A ceia em si é um rito exterior. Mas a participação
na cerimônia da Ceia (cumprindo a ordenança de Cristo) reforça a comunhão
ordinária entre os irmãos da mesma fé. Para a filosofia, a comunhão assume o
sentido de semelhança de sentimentos, semelhança das ideias ou das crenças de
um grupo, pode ser duas ou mais pessoas, que têm a consciência dessa
semelhança. É por isto que é fundamental estarmos reunidos sempre no nome de
Jesus Cristo.
Em seu ensinamento ele disse: “Porque onde estiverem dois ou três
reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mateus 18.20)
Considerando o que ouvimos a
respeito das idiossincrasias na celebração da Ceia do Senhor, cumpre agora,
falar dos pré-requisitos para a participação neste evento.
Esta ordenança foi dada aos
discípulos e não para todo mundo. Portando somos em concordar que somente
crentes batizados e em reconhecida comunhão com a igreja pode participar,
extensivo aos crentes conhecidos de outras denominações e que professem a Sã
doutrina do Evangelho de Cristo. Muito embora, o ideal é cada crente participar
na sua igreja.
A igreja é um “poder executivo”,
e como tal deve executar a ordenança como foi dada nas Sagradas Escrituras,
portanto, está impedida de criar regras (legislar) sobre esta ordenança.
Ainda no rastro de Strong: “ Nem uma (sic) igreja tem o direito de
estabelecer quaisquer termos da comunhão; ela só é responsável por tornar
conhecidos os termos que Cristo e seus apóstolos estabeleceram.” (Strong,
2003)
O Novo Testamento lista 4
pré-requisitos para a participação na Ceia do Senhor:
1 1)
Regeneração
2)Batismo
3)Membresia da Igreja
4)
Andar ordenadamente
Há denominações que mantém a
guisa de batistério uma piscina plástica na entrada da igreja. Nada contra
isto. Mas a ordem de Cristo é clara: “Portanto,
ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho
mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos. Amém! (Mateus 28.19-20)
O simbolismo das ordenanças exige
por inferência que o batismo preceda a Ceia.
“Como é necessário “nascer do Espírito” antes de experimentar a força
sustentadora de Cristo, é também necessário “nascer da água” antes que se possa
apropriadamente ser nutrido pela Ceia do Senhor. Nem aquele que nasceu e nem o
morto podem comer o pão ou beber o vinho. Só depois que Cristo havia
ressuscitado a filha de Jairo, é que ele “mandou que lhe dessem de comer”. A
ordenança que simboliza a regeneração, ou a transmissão de uma nova vida, deve
preceder a ordenança que simboliza o fortalecimento e aperfeiçoamento da vida
que já começou. O Ensino dos Doze Apóstolos (Didachê), escrito antes da segunda
metade do segundo século, declara (9.5,10) _ “Que ninguém coma ou beba a vossa
Eucaristia senão aqueles que foram batizados no nome do Senhor; porque, quanto
a isto, também o Senhor disse: “Não deis as coisas santas aos cães’... Só se
dará a Eucaristia aos batizados.” (Strong, 2003) p.755
Somos por concordar que caso
existam de fato estas digressões nas celebrações da Ceia do Senhor, elas estão
tendo lugar pela falta de um estudo bíblico sério e comprometido. Pelo
aproveitamos para fazer a nossa defesa da Teologia Cristã, enquanto instrumento
para suprir a igreja dos conhecimentos necessários para realizar as ordenanças
de acordo com a Bíblia. Levantamos a voz em defesa da Escola Bíblica Dominical
e dos Cultos de ensino como forma de aprofundar os conhecimentos Bíblicos.
BIBLIOGRAFIA
Bíblia Obreiro
Aprovado: Sínteses, artigos, liturgia, concordância,dicionário, Harpa Cristã. (2010). Rio de Janeiro: CPAD.
Cleave, G. P. (2000). Fundamentos
da Teologia Pentecostal (2ª ed., Vol. I). (N. Siqueira, Trad.) São
Paulo/SP: Quadrangular.
Concordância Bíblica
Abreviada. (2006). São Paulo, SP:
Vida.
Lallande, A. (1999). Vocabulário
Técnico e Crítico da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes.
Sociedade Bíblica do
Brasil. A Bíblia Sagrada- Harpa Cristã. Barueri, SP: Casa Publicadora
das Assembléias de Deus.
Strong, A. H. (2003). Teologia
Sistemática Vol II. São Paulo/SP: Hagnos.
Zimmer, W. K. Dicionário
da Bíblia de Almeida.
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