UM ESTUDO SOBRE A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO.
UM ESTUDO SOBRE A PARÁBOLA DO FILHO
PRÓDIGO.
Jonas
Dias de Souza[1]
O
texto que trata da história do filho pródigo está em Lucas 15:11-32.
A
vida de um pecador que se converte compreende cinco estágios, os quais podem
ser vistos nesta parábola que Jesus utilizou para confrontar os Fariseus: O
primeiro estágio é a partida (descrita nos versículos 11-13). O segundo estágio
é a miséria na terra estrangeira (descrita nos versículos 14-16). Já nos
versículos 17 ao 19 temos a contrição pelos pecados cometidos. Depois, o
retorno ao Pai no versículo 20 e seguintes. E o quinto estágio que é a
aceitação do filho que volta ao convívio familiar. Podemos simplificar: Pecado,
Castigo, arrependimento, conversão e justificação.
Por
vezes nos limitamos a falar somente do filho mais novo, quando em verdade, esta
parábola se dirige também àquelas pessoas que se colocam no lugar do filho mais
velho, e que podem ser exemplificadas com aqueles que se denominam
“crentes
antigos”.
E disse: Um certo homem tinha dois
filhos.
E o mais moço deles disse ao pai:
Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a
fazenda.
Jesus
inicia sua parábola falando que havia um homem que tinha dois filhos. É de se
estranhar a iniciativa do filho em repartir as terras do pai, sem sequer
esperar a sua morte. Isto por si só já demonstra uma quebra da lei natural na
sucessão das coisas. Conforme o costume daquela época, o filho primogênito
(mais velho) receberia dois terços da propriedade. Já ao filho mais moço cabia
um terço.
Este
costume é descrito no Livro de Deuteronômio.
O primogênito é o princípio da força do homem e devia receber porção
dobrada. O filho mais moço dá inicio ao
repartir da propriedade, numa demonstração de desrespeito para com a autoridade
paterna enquanto chefe daquele núcleo familiar. Deveria partir do pai a
iniciativa de repartir a terra e assim se desincumbir de sua responsabilidade
para com a administração.
E poucos dias depois, o filho mais
novo; ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou a sua
fazenda, vivendo dissolutamente.
Podemos
supor que ele vendeu as terras para alguém estranho à família, e tomando sua
parte em espécie partiu. Ainda hoje vemos nossos jovens partindo para terras
cada vez mais distantes numa valorização da “cultura alheia”. Importante notar
que o Pai neste momento não profere nenhuma censura. Fica calado. Ele permite
(assim como Deus) que o ser humano faça o que quer. Este respeito ao “direito
de pecar”, é o respeito ao fato de que Deus criou o homem livre e para a
liberdade, inclusive para a liberdade de pecar. O pai permitiu ao filho mais
moço que ele escolhesse seu caminho, procedendo de acordo com seus desejos.
Desperdiçou
é justamente o oposto de “ajuntando tudo”. É nisto que consiste o pecado.
Gastar os bens criados por Deus Pai, e a nós emprestados. Alguns destes bens:
Saúde, Vigor Físico, Coisas Materiais, Tempo, Saúde Mental. No pecado, o filho
de Deus, não atenta para a questão da mordomia. Este afastamento para um terra
distante é uma fuga da disciplina do Pai.
E havendo ele gastado tudo, houve
naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.
Esta
descrição breve retrata que o filho se viu pobre, desnudo e despido de suas
posses. Na terra em que ele achava que teria plena liberdade, ele se viu de
repente presa das circunstâncias mais adversas. Este padecer necessidades é uma
demonstração de sua condição de extrema inferioridade em relação aos habitantes
naturais daquele país. Uma condição pior do que o natural da terra. Numa
comparação com o mundo moderno vemos que não mudou muito. Os filhos saem do lar
e na esperança de uma pseudo-liberdade, vivem uma vida dissoluta. Ainda assim
ocorre com aqueles que muitas vezes abandonam a igreja para a vida no mundo. Esta
crença de uma liberdade irrestrita fora da vida familiar e congregacional não
passam de uma armadilha, o mais é engano.
E foi e chegou-se a um dos cidadãos
daquela terra, o qual o mandou para os seus para apascentar porcos.
Em
conformidade com a lei judaica, os porcos eram animais imundos. Os porcos não
podiam ser comidos ou usados em sacrifícios, portanto para um judeu, tratar dos
porcos representava a suprema humilhação. Tal fato pode ser conferido em
Levítico 11: 2-8 e Deuteronômio 14:8. Desejar comer a comida dos porcos
significava que ele estava numa condição muito além da degradação humana. Ou
numa linguagem econômica moderna, ele estava muito abaixo da linha da pobreza.
Vemos o naufrágio do filho mai moço e sua submersão nas águas escuras da
perdição. Longe dos seus, desamparado pelos amigos que só se interessavam pela
fortuna. Humilhado...Humilhado...Humilhado...
Assim
nos deixa o pecado. Jogado na lama do chiqueiro dos porcos. Representado hoje
pelas sarjetas da bebida, do jogo e das drogas e das prostituições.
E desejava encher o seu estômago
com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.
Já
ouvi muitas pregações dizendo que ele comia a comida dos porcos. Mas vemos que
nem isto sobrava para ele. Ou seja, ninguém lhe dava nada. O porco assumiu
muito mais importância do que o homem. Mas é este o trabalho do diabo: Roubar,
Matar e Destruir. O mais humilhante trabalho que poderia existir para um judeu
não lhe garantiu sequer a sua subsistência. Algumas versões trazem que as
comidas dos porcos eram “vagens de alfarrobeiras”.
E, caindo em si, disse: Quantos
trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
Vemos
aqui a contrição pelo saída inoportuna de sua casa. A sua mente analisa a
diferença entre a miséria e a abundância da casa paterna. Vemos ainda hoje esta
latente diferença entre a vida na congregação junto aos irmãos, ao pé dos
pastores e a vida nas noitadas de bebidas e destruição familiar. A recordação
de um pai que era bom para os filhos e para seus empregados. “As grandes dores as tragédias são
frequentemente necessárias para fazer as pessoas olharem para o único que pode
ajudá-las: Jesus.”[2]
Será
que você neste momento está agindo assim? De acordo somente com suas vontades,
de forma egoísta. Saiba que isto trará para você e para os seus muitas dores. O
ideal é parar antes que o fundo do abismo nos toque.
“Caindo
em si”, significa que antes, ele estava tomado pela loucura do pecado. É isto
que é o pecado: Loucura. A volta acontece pela confiança que ele tem depositada
no Pai e pelo amor próprio.
Levantar-me-ei, e irei ter com meu
pai, e dir-lhe -ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de
ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus trabalhadores.
A
recordação de que os empregados de seu pai tinham abundância e a saudade do tratamento que recebia fala
fundo em seu coração. “Planeja antepor à
solicitação prevista uma confissão de sua culpa.”[3]
E, levantando-se, foi para seu pai;
e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão,e,
correndo, lançou-se lhe ao pescoço, e o beijou.
Estamos
diante de uma demonstração inequívoca da GRAÇA
DE DEUS. O pai esperava a volta do
filho pródigo, não saiu para procurá-lo pois sabia que estava lidando com um
ser humano dotado de vontade e liberdade. Ainda assim ocorre com os crentes
desviados, esperamos pela suas voltas, pois sabem que há um caminho. Diferente
das ovelhas perdidas ou das dracmas[4]
que hão que ser procuradas. Mas o filho quando volta para seu pai, é recebido
de forma alegre. Esta constância e paciência no amor de deus é que faz com que
Ele nos dê as boas-vindas ao retornarmos para o lar. Assim como o pai age nesta história, Deus age
em nossas vidas. Deus não nos força a respondê-lo ou a buscá-lo, mas quando o
fazemos, Ele nos recebe de braços abertos. O fato de que o pai o viu ao longe,
é uma demonstração de quantas vezes aquele pai, teve seu olhar perdido no
horizonte, na esperança de que o filho apontasse na estrada. Uma demonstração
de que o amor do pai não foi extinto pelo tempo e pela ausência da separação. A
íntima compaixão que mostra o pai mostra que o estado deplorável do filho,
longe de deixar asco, deixou mais motivação para que o pai o recebesse. É por
isto que não entendemos quantas mães e pais enfrentam horas de humilhação para
visitar os filhos nos presídios. A restituição do relacionamento ocorre sem
cobranças por parte do pai. É como se o filho mais moço nunca o tivesse
decepcionado. O maravilhoso disto tudo é que o pai toma a iniciativa de abraçar
o filho. Nada de críticas, de repreensões, mas apenas o amor demonstrado no
abraço silencioso.
E o filho lhe disse: Pai, pequei
contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho.
Mas o pai disse aos cervos: Trazei
depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias
nos pés.
Descalço,
maltrapilho e sem reconhecimento é assim que voltamos do mundo para a casa do
Pai. Em troca de nossos trapos, recebemos roupas melhores. Os pés imundos são
lavados e calçados com sandálias. E o bezerro cevado, foi a morte de Cristo. Esta foi a oferta pela propiciação de nossos
pecados. O pai que ficou calado o tempo todo, agora abre a boca. Não para
falara um “Está perdoado”. Mas, sim, para dar ordens imperativas aos servos
para que coloquem o filho arrependido na melhor posição da casa. Assim devem
ser as ações de perdão em nossas vidas. Perdão não pode ser mostrado por
palavras vazias e sem sentido, mas por ações que efetivamente demonstrem o ato
do perdão. E perdão não é Dom; é ordenança.
As
sandálias são um privilégio do homem livre. O escravo devia andar descalço. “Para a liberdade foi que Cristo nos
libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de
escravidão.” (Gálatas 5:1)
O
anel era símbolo de autoridade para o judeu.
E trazei o bezerro cevado, e
matai-o; e comamos e alegremo-nos,
Todos
devem alegrar-se com a volta do filho que estava perdido. Inclusive os cervos
da casa. Assim nós devemos participar da alegria de nosso pai. Assim ocorre com
os anjos no céu. Alegram-se quando um pecador se arrepende. Fazem festa de
júbilo para com aquela alma que estava perdida e salvou-se. Esta festa
representa a comunhão.
porque este meu filho estava morto
e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se.
Não
importa a maneira como os pecadores se perdem. Deus está de prontidão eterna
esperando o momento em que seus filhos resolvem voltar para o lar. Dentro da
Bíblia Cristã, o conceito de morte e vida, faz alusão à questão do pecado e da
conversão. O pecado representa a separação do pai. A conversão representa a
aceitação de que somos dependentes de Deus para termos a salvação por meio de
seu filho. Pecado é morte. Conversão é vida.
E o seu filho mais velho estava no
campo; e, quando veio e chegou perto de casa, ouvia a música e as danças. E
chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
E ele lhe disse: Veio teu irmão; e
teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.
Mas ele se indignou e não queria
entrar. E, saindo o pai, instava com ele.
Cristo
está falando diretamente aos fariseus que julgam ser melhores do que outros.
Mas fala diretamente às igrejas do mundo moderno e de seus membros que não
gostam de receber pecadores em seus interiores. Estas igrejas da Teologia da
prosperidade não querem nada mais que as lãs de suas ovelhas. Não se preocupam
e não se alegram com a salvação das almas.
Mas, respondendo ele, disse ao pai:
Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e
nunca me deste um cabrito para alegrar-me com meus amigos.
O
que vemos na atitude do filho mais velho, é o que presenciamos até hoje. O “Escândalo da Graça” causa perplexidade
até hoje no mundo. O homem natural não aceita o fato de que o pecador tem a sua
impureza remida sem que para isto precise oferecer sacrifícios, penitências e
novenas. O homem natural não entende o AMOR DO PAI que deu seu filho unigênito
para morrer e apesar de toda nossa vida
dissoluta nos aceita e nos veste com trajes de festa. A representação do filho
mais velho é para ilustrar os judeus, que de forma meticulosa guardavam os
princípios legais, mas nem de longe compreendiam o princípio da Graça Divina.
Vindo, porém, este teu filho que
desperdiçou a tua fazenda com meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.
As
palavras do filho mais velho demonstram que ele estava tão perdido quanto o
filho mais novo. “As pessoas que se
arrependem depois de viver notoriamente no pecado atraem suspeitas; há igrejas
que se mostram pouco dispostas a admiti-las como membros.” (BAP, 1386)
É
muito difícil para o filho mais velho aceitar o irmão que viveu de forma
dissoluta e desregrada, mesmo tendo se arrependido. Inúmeras vezes, Cristãos
mais velhos agem (motivado pelo ciúme) como o irmão mais velho. Na verdade
deveriam agir como o Pai que abriu os braços para recebê-lo.
A
nossa atitude deve ser semelhante como a dos anjos no céu. Há regozijo quando
um pecador se arrepende e volta para Deus.
E ele lhe disse: Filho, tu sempre
estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas.
Não
percebemos por várias vezes que as bênçãos do Pai são nossas. E o que vemos
muitas vezes é o que se chama de “correr atrás da benção”.
O
perdão do pai está ligado ao fato de que ele é Amor. Já o filho mais velho
representa o ressentimento. Mas nada há que não possa ser refeito.
A
inveja e o orgulho é que nos impedem de usufruirmos das coisas que Deus nos dá
e não as bênçãos que estão ao nosso alcance.
Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos,
porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado.
O
pai sabiamente lembra que o que retornou ao seio da família foi o irmão que
saiu. Embora magoado e machucado ambos têm sua gênese no mesmo pai e muito
provavelmente tenham se alimentado do mesmo leite materno.
O
ser que está morto é uma analogia com aquele ser que perdeu o contato com Deus.
Ao perder o contato com Deus, deixamos de participar da vida ressurreta em
Cristo Jesus. “nem ofereçais cada um dos
membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas
oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a
Deus, como instrumentos de justiça.” (Romanos 6:13)
E
ainda: “Ele vos deu vida, estando vós
mortos nos vossos delitos e pecados.” (Efésios 2;1)
Bibliografia
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. (2003). São Paulo.
Brasil, S. B. (2008). Bíblia
Shedd. São Paulo: Vida Nova.
CPAD. (2011). Bíblia
de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego. Rio de Janeiro/RJ: CPAD.
Fritz, R. (2005). Evangelho
de Lucas (Comentário Esperança). Curitiba/PR: Editora Evangélica
Esperança.
[1]
Servo de Deus. Congrega na Assembleia de deus Missões na cidade de São João
Del-Rei/MG. Graduado em Filosofia pela Universidade federal de São João Del-Rei
(UFSJ). Estudante de Teologia da EETAD.
[2]
Bíblia de Aplicação Pessoal, p 1385
[3]
Comentário esperança: Evangelho de Lucas.
[4]
Dracma é o nome de
uma antiga unidade monetária usada em muitas cidades da Grécia , na
Antiguidade, e também em alguns reinos do Oriente Médio , no período
helenístico.
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