quinta-feira, 9 de julho de 2020

Os gafanhotos Migrador, Cortador, Devorador e Destruidor

-Tema: ESTUDOS BÍBLICOS

Joel 1.4 “O que deixou o gafanhoto cortador, comeu-o o gafanhoto migrador; o que deixou o migrador, comeu-o o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor.
Introdução: O profeta Joel anunciou uma grande destruição usando a figura do gafanhoto como símbolo. Joel profetizou num tempo de decadência espiritual, durante o período do rei Joás (II Reis 11.1-3), quando ainda criança e a rainha Atalia usurpava do trono (841 - 835 a.C.).1 O texto não diz se os gafanhotos foram uma visão do profeta ou um fato real que aconteceu, mas poderia se referir a eventos comuns na região, quando as lavouras eram atacadas por gafanhotos, para exemplificar o caos que o povo vivia.

Como são estes gafanhotos?

Vamos entender a mensagem e o significado de cada um dos quatro tipos gafanhotos descritos pelo profeta Joel:

1 - A mensagem sobre os gafanhotos

O profeta Joel teve a missão de despertar o povo à obediência, fazendo-os observar o que acontecia ao seu redor, tirando lições para sua vida. A aplicação da mensagem usando a figura do gafanhoto pode ser entendida de diferentes formas, mas há o consenso que que o objetivo era repreender a desobediência do povo.
Quatro lições na mensagem de Joel sobre os gafanhotos:

a) Sentido MORAL

Joel inicia seu texto chamando atenção do povo: “narrai isto a vossos filhos, e vossos filhos o façam a seus filhos, e os filhos destes, à outra geração (Joel 1.3). O profeta avisa que a história devia ser contada pelas famílias para que não esquecessem das lições que já tinham vivido e o que estava acontecendo. Joel também repreende o pecado da embriaguez no meio do povo (Joel 1.5).

b) Sentido PROFÉTICO

Gafanhotos são símbolos de multidão e exército em várias passagens bíblicas (Isaías 33.4; Jeremias 51.14 e 27). Quando Joel diz que “veio um povo contra a minha terra, poderoso e inumerável (Joel 1.6), referindo-se a um grande exército (Joel 2.4-9 e 11), poderia estar avisando profeticamente sobre uma sequência de invasões que o povo de Israel sofreria com quatro grandes exércitos: assírios, babilônicos, medo-persas e romanos.2

c) Sentido HISTÓRICO

Joel narra que “o campo está assolado, e a terra, de luto, porque o cereal está destruído, a vide se secou, as olivas se murcharam” (Joel 1.10), então é possível que tenha acontecido uma praga de gafanhotos e o profeta então usa como exemplo para sua mensagem descrevendo literalmente uma devastação (Joel 1.7-12) e consequentemente a fome (Joel 1.16,17). Este marco histórico pode ter sido o ponto de partida para a mensagem profética de Joel, chamando o povo ao arrependimento.

d) Sentido ESPIRITUAL

A profecia de Joel também tem propósito espiritual de chamar o povo ao arrependimento (Joel 1.13,14 e 2.12-17). Quando saíram do Egito, Deus livro o seu povo das pragas, inclusive dos gafanhotos (Êxodo 10.12-15), que frequentemente são usados como símbolo do castigo Divino (Amós 4.9 e 7.1; II Crônicas 7.13; Salmos 105.34). O apóstolo João narra uma visão apocalíptica de gafanhotos (Apocalipse 9.3), usando uma linguagem semelhante à de Joel ao dizer que estes gafanhotos tinham “dentes como de leão” (Joel 1.6 e Apocalipse 9.8), simbolizando seu poder de destruição. No texto apocalíptico os gafanhotos representam o poder demoníaco saindo do abismo (Apocalipse 9.1-3) e sua aparência é aterrorizante (Apocalipse 9.7-11).
Ponderando estas possibilidades de interpretação dos gafanhotos citados pelo profeta Joel é possível compreender sua lição moral de chamado à reflexão, o sentido profético se referindo às invasões de exércitos inimigos que destruiriam a terra, o fato histórico de um enxame de gafanhotos que destruiu as lavouras e por fim a mensagem espiritual visando o arrependimento.

2- Os tipos de gafanhotos

No texto original da Bíblia é possível entender que o profeta Joel não está falando de tipos diferentes de gafanhotos e sim a lagarta, o gafanhoto adulto, a locusta e o pulgão que são fases da vida do gafanhoto (Levítico 11.22), à medida que cresce e se procria, destruindo as plantações (Naum 3.15-17). 3
O profeta Joel descreve de maneira clara, sobre a ação dos gafanhotos na lavoura, o que era conhecido das pessoas da época, que sobreviviam de suas plantações. Uma praga de gafanhotos era realmente temida pelos produtores, que dependiam da terra para o sustento de suas famílias e sabiam que as consequências deixadas pelos gafanhotos seriam desastrosas.
As fases dos gafanhotos:

a) Gafanhoto Cortador > LAGARTA

A primeira palavra usada para o gafanhoto cortador é gazam (גָּזָם)4, que significa lagarta. Esta palavra aparece apenas três vezes na Bíblia (Joel 1.4, 2.25 e Amós 4.9). A lagarta também é chamada de roedora ou descascadora porque corta as folhas da planta. A lagarta ainda pequena se abriga na lavoura e corta o fruto, comendo uma parte, fazendo com que estrague e o agricultor não colhe e o fruto por completo.

b) Gafanhoto Migrador >GAFANHOTO

A segunda palavra usada para o gafanhoto migrador é arbeh (אַרְבֶּה)5 que é o gafanhoto quando está em fase de crescimento e por isso viajam em bandos em busca de alimento. Esta é uma a palavra mais comum para se referir ao gafanhoto, usada 24 vezes na Bíblia. O gafanhoto migrador, como o nome diz, representa a fase migratória, espalhando um rastro de destruição, pois quando acabam de comer em um lugar, logo passam para outra plantação.

c) Gafanhoto Devorador > LOCUSTA

A terceira palavra usada para o gafanhoto devorador é yeleq (יָ֫לֶק)6 que é a sua fase adulta e reprodutiva. Nesta fase, o gafanhoto se alimenta muito mais porque tem o objetivo de colocar seus ovos na lavoura. O nome devorador se refere ao seu poder de consumir a plantação em pouco tempo.

d) Gafanhoto Destruidor > PULGÃO

A quarta palavra usada para falar do gafanhoto destruidor é chasil (חָסִיל)7 se refere ao filhote que eclodiu dos ovos deixados pela locusta. Este pulgão fica na lavoura e suga a seiva, podendo matar as plantas com uma espécie de ferrugem em seus galhos e folhas, além de ser uma nova geração de gafanhotos que continua destruindo as plantações. Nesta fase o agricultor procura agir de forma preventiva para proteger sua lavoura.
Os quatro gafanhotos citados por Joel, na verdade são fases que prejudicam as lavouras continuamente. O gafanhoto cortador age cortando as folhas, o gafanhoto migrador quebrando e carregando folhas e galhos, o gafanhoto devorador consome ainda mais as plantações a reprodução e finalmente o gafanhoto destruidor corrói os troncos e folhagens podendo matar as plantas. 8

Os gafanhotos podem ser vencidos!

CONCLUSÃO

Joel 2.25 “Restituir-vos-ei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto migrador, pelo destruidor e pelo cortador, o meu grande exército que enviei contra vós outros.”
A profecia de Joel que inicia com um aviso de destruição, continua com uma mensagem de esperança para o povo de Deus (Joel 2.25-27) e anuncia a salvação através de um novo tempo com o derramar do Espírito Santo (Joel 2.28-31). O “dia do Senhor” tão anunciado por Joel é o juízo sobre a desobediência (Joel 1.15; 2.1, 11, 31; 3.14 e 18), mas as promessas Divinas são de bênção e paz sobre aqueles que se arrependem.
Este texto é muito usado para se referir à fidelidade nos dízimos e ofertas, mas na verdade o contexto não se refere exclusivamente a isso, embora Joel também diga que foi “cortada está da Casa do Senhor a oferta de manjares e a libação; os sacerdotes” (Joel 1.9), podendo fazer uma ligação com a mensagem de Malaquias que fala do devorador (Malaquias 3.10,11).
De maneira simbólica, os gafanhotos podem representar perdas que temos em nossas vidas (Ageu 1.6) e precisamos tirar lições práticas com estes acontecimentos (Isaías 55.1,2). Espiritualmente também podem significar a ação maligna que tenta “roubar, matar e destruir” (João 10.10), mas que em Cristo sabemos que somos salvos pela fé (I João 3.8).
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Citações bíblicas: ARA – Almeida Revista e Atualizada. SBB – Sociedade Bíblica do Brasil.
Bíblia King James Atualizada (KJA). São Paulo: Sociedade Líbero-Americana e Abba Press no Brasil, 2012. Página 1641.
MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular – Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, 2011. Página 750.
Bíblia de Estudo Arqueológica NVI. São Paulo: Editora Vida, 2013. Páginas 1435 e 1438.
STRONG, James. Dicionário Grego do Novo Testamento. Bíblia de Estudo Palavras-Chave: Hebraico. Grego. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Corrigida. Rio de Janeiro: CPAD, 2011. Página 1578, Verbete 1501.
STRONG, Página 697, Verbete 697.
STRONG, Página 1683, Verbete 3218.
STRONG, Página 1649, Verbete 2625.
HARRIS, R. Laird, organizador. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998. Páginas 259, 260 e 505.

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